Faremos uma abordagem micromorfológica dos tecidos e células que constituem as diferentes articulações:
Cartilagem Hialina
Cartilagem hialina delimitada pelo pericôndrio; no interior da matriz cartilaginosa estão presentes os condrócitos que ocupam as lacunas.
A cartilagem hialina é formada, em 40% do seu peso seco, por fibrilas de colágeno tipo II associadas a proteoglicanas muito hidratadas e a glicoproteínas adesivas. Nos preparados comuns, o colágeno não se distingue porque está principalmente sob a forma de fibrilas de dimensões submicroscópicas, e além disso, as fibrilas têm índice de refração muito semelhante ao das macromoléculas que as envolvem.
Em adição ao colágeno, a matriz contém glicosaminoglicanas combinadas por covalência com proteínas, formando proteoglicanas. Cada molécula de proteoglicana consiste em uma parte central protéica (cerne), de onde irradiam numerosas moléculas não ramificadas e relativamente curtas de glicosaminoglicanas sulfatadas (condroitinsulfato e queratossulfato). As moléculas de proteoglicanas parecem escovas de limpar tubos de ensaio, onde a proteína (cerne protéico) representa a parte central e as moléculas de glicosaminoglicanas sulfatadas correspondem aos pêlos da escova. Até 200 dessas proteoglicanas podem estabelecer ligações não covalentes com uma única molécula de ácido hialurônico, que é uma glicosamina não sulfatada e de alto peso molecular, para formar uma molécula enorme de agrecana. As moléculas de agrecana, um agregado molecular muito importante para manter a rigidez da matriz cartilaginosa, interage com as fibrilas colágenas. O alto conteúdo de água de solvatação das moléculas de glicosaminoglicanas atua como um sistema de absorção de choques mecânicos, ou mola biomecânica, de grande significado funcional, principalmente nas cartilagens articulares. Outro componente importante da matriz da cartilagem hialina é a glicoproteína adesiva condronectina, uma macromolécula com sítios de ligação para condrócitos, fibrilas colágenas e glicosaminoglicanas. Assim, a condronectina participa da associação do arcabouço macromolecular da matriz aos condrócitos.
Em torno dos condrócitos existem zonas estreitas, ricas em proteoglicanas e pobres em colágeno. Essas zonas mostram basofilia, metacromasis e a reação P.A.S. mais intensas do que o resto da matriz, sendo impropriamente chamadas de cápsulas, porque inicialmente se acreditava que constituíssem uma parede envolvendo as células.
Na periferia da cartilagem hialina, os condrócitos apresentam forma alongada, com o eixo maior paralelo à superfície. Mais profundamente, são arredondados e aparecem em grupos de até oito células, chamados grupos isógenos, porque são originados de um único condroblasto.
As células e a matriz cartilaginosa sofrem retração durante o processo histológico, o que explica a forma estrelada dos condrócitos e seu afastamento da cápsula.In vivo, os condrócitos enchem totalmente as lacunas. A superfície dos condrócitos parece regular ao microscópio óptico, porém o etetrônico mostra reentrâncias e saliências maiores e mais freqüentes nos condrócitos jovens. Essa disposição aumenta a superfície dos condrócitos, facilitando as trocas com o meio extracelular, o que é importante para a nutrição dessas células, tão afastadas da corrente sangüínea. Os condrócitos são células secretoras de colágeno, principalmente do tipo II, proteoglicanas e glicoproteínas, como a condronectina.
Todas as cartilagens hialinas, exceto as cartilagens articulares, são envolvidas por uma camada de tecido conjuntivo, denso na sua maior parte, denominado pericôndrio. Além de ser uma fonte de novos condrócitos para o crescimento, o pericôndrio é responsável pela nutrição da cartilagem, por sua oxigenação e pela eliminação dos refugos metabólicos, porque nele estão localizados vasos sangüíneos e lifáticos, inexistentes no tecido cartilaginoso. O pericôndrio é formado por tecido conjuntivo muito rico em fibras de colágeno tipo I na parte mais superficial, porém gradativamente mais rico em células à medida que se aproxima da cartilagem.
Cartilagem hialina revestida pelo pericôndrio na porção superior do corte histológico. No centro verifica-se a presença de vários condrócitos, muitos em fase de divisão mitótica, formando os grupos isógenos. Entre os condrócitos observa-se o preenchimento da matriz.
Cb: condroblasto; P; pericôndrio; Gi: grupo isógeno; C: condrócito; M: matriz cartilaginosa.
Matriz inter-territorial (asterisco); matriz territorial (seta fina) ao redor de condrócitos; condroblasto (seta grossa); pericôndrio (estrela).
Fonte: acd.ufrj.br
Fonte: www.famerp.br
Cartilagem fibrosa ou fibrocartilagem
Detalhe dos fibrocondrócitos isolados ou em grupos isógenos dentro de lacunas. Os espaços que representam as lacunas, "in vivo" são totalmente ocupados pela célula cartilaginosa. Na cartilagem fibrosa não existe pericôndrio.
É um tecido com características intermediárias entre o conjuntivo denso e a cartilagem hialina. A fibrocartilagem está sempre associada a conjuntivo denso, sendo imprecisos os limites entre os dois. Muito freqüentemente, os condrócitos formam fileiras alongadas. A matriz da fibrocartilagem é acidófila, por conter grande quantidade de fibas colágenas, facilmente identificáveis ao microscópio óptico. A substância fundamental amorfa é escassa e limitada à proximidade das lacunas que contém os condrócitos, onde forma cápsulas basófilas, metacromáticas e P.A.S. positivas. Na fibrocartilagem não existe pericôndrio.
Lâmina de cartilagem fibrosa evidenciando os feixes de espessas fibras colágenas, que constituem feixes, os quais seguem uma orientação aparentemente irregular entre os condrócitos ou um arranjo paralelo ao longo dos condrócitos em fileiras. Os condrócitos ocupam as lacunas na matriz cartilaginosa.
Notar: fibras colágenas em arranjo paralelo do anel fibroso (estrela de cinco pontas) e condrócitos organizados em fileiras na área de cartilagem fibrosa (seta vazada). Observar área de tecido ósseo (estrela de três pontas) com osteócitos (seta fina).
Fonte: acd.ufrj.br
Notar os condrócitos organizados em grupos isógenos.
Fonte: acd.ufrj.br
Fonte: www.fcv.unl.edu.ar
Tecido conjuntivo fibroso
Fonte: www.fcm.unicamp.br
Há diversas variedades de tecido conjuntivo, formadas pelos constituintes básicos (fibras, células e matriz extraceluar). Os nomes dados aos diferentes tipos refletem o componente predominante ou a organização estrutural do tecido.
O tecido conjuntivo denso é a parte do tecido conjuntivo caracterizado pela abundância de fibas colágenas, o que lhe dá grande resistência. A disposição dessas fibras é característica promordial para classificá-lo como fibroso ou não-modelado ou tendinoso ou modelado.
Tendinoso ou modelado: suas fibras estão orientadas paralelamente, tornando-o resistente, mas pouco elástico. Ele forma os tendões, que ligam os ossos aos músculos; e os ligamentos, que ligam os ossos entre si.
Lâmina histológica de um tendão (HE)
FC: feixes de fibras colágenas, F: núcleo do fibroblasto
Fonte: www.pucrs.br
Fibroso ou não-modelado: Apresentam fibras entrelaçadas, tornando-o resistente e elástico, e impedindo-o de ter forma própria, moldando-se aos órgãos que reveste, como por exemplo: o baço, o fígado e os testículos.
Lâmina histológica de Lábio(H.E)
VS: vaso sanguíneo; FC: Fibras Colágenas; N:núcleo
Fonte: www.pucrs.br
Lâmina histológica mostrando o tecido conjuntivo denso não modelado
Fonte: rbp.fmrp.usp.br
Líquido sinovial
Cristais de urato ao microscópio de luz polarizada
Fonte: www.ser.es
O líquido sinovial é um dialisado do sangue onde os sinoviócitos adicionaram glicosaminoglicanos (GAG). A sua principal função é a lubrificação, que diminui o atrito, diminuindo, desta forma, o desgaste e ruptura da cartilagem. O líquido sinovial também fornece nutrição à cartilagem articular e mantém o equilíbrio eletrônico e metabólico.
O principal GAG do líquido sinovial é o ácido hialurônico, que é altamente polimerizado e previne a entrada de proteínas séricas de alto peso molecular no líquido. As proteínas do líquido articular aumentam com as condições inflamatórias, tanto devido à queda neste estado polimerizado do ácido hialurônico, quanto como resultado do aumento na permeabilidade capilar da subsinóvia. Ambas as situações causam o derrame sinovial. Acredita-se que os corticosteróides interferem na produção do ácido hialurônico.
As condições articulares inflamatórias podem ser distinguidas das condições não inflamatórias por meio da análise do líquido articular.
A viscosidade do líquido sinovial está relacionada a suas mucoproteínas; é maior em articulações pequenas e em baixas proporções de esforço e uso (marcha, estação). Diminuição na viscosidade durante movimento mais rápido causa menor resistência e, portanto, menor fricção das superfícies da articulação. Baixas temperaturas podem aumentar a viscosidade e, desta maneira, resistência entre as superfícies articulares. Isto expliaca parcialmente a necessidade do "aquecimento" antes das atividades atléticas.
Líquido sinovial com espiral de Curschmann (Papanicolau, 600x).
Fonte: conganat.uninet.edu
Espiral de Curschmann
Fonte: conganat.uninet.edu
Espiral de Curschmann. Mucinas ácidas sulfatadas dão a coloração negra (diamino férrica, 200x)
Fonte: conganat.uninet.edu
Mescla de mucinas ácidas sulfatadas (negro) e não sulfatadas (azul) (diamino férrica, 200x).
Fonte: conganat.uninet.edu
Detalle de uma espiral de Curschmann com Azul-Alcian a pH 1 (600x).
Fonte: conganat.uninet.edu
Cristais de urato de sódio aspirados do líquido sinovial em um caso de gota e examinados diretamente em luz polarizada.
Fonte: www.fcm.unicamp.br